Grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul ampliou número de integrantes em 2023 e agora discute nova categoria de ‘parceiros’. Para professor, poder seguirá com ‘núcleo duro’ de 5 países.
Especialistas em relações internacionais e em economia ouvidos pela GloboNews avaliam que a ampliação do Brics, com a entrada de novos países, e a discussão sobre a criação da categoria de parceiros, na prática, amplia a influência geopolítica da Rússia e da China.
Eles divergem, porém, sobre os efeitos econômicos das medidas.
O Brics se reuniu pela primeira vez em 2006, incluindo Brasil, Rússia, Índia e China, e foi criado oficialmente em 2009. Posteriormente, foi aprovada a entrada da África do Sul.
- Em 2023, na cúpula de Joanesburgo, o bloco aprovou a entrada de mais seis países (quatro já entraram; um ainda não respondeu; e a Argentina desistiu) e este ano, na Rússia, discute a criação da categoria de parceiros, que pode levar mais 13 países ao Brics.
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Para o professor José Luís da Costa Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), a ampliação do bloco representa uma “briga de hegemonia” entre, de um lado, China e Rússia, e, de outro, Estados Unidos e Europa.
À GloboNews o professor Pio Penna Filho, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), disse concordar com a análise de que os recentes movimentos do Brics visam fazer um contraponto ao G7, mas “tem tudo para dar errado” por ser “muito heterogêneo” e representar interesses distintos.
“Aquela perspectiva original, ainda como Bric, já era heterogênea e com pouca convergência. A Rússia defende os interesses dela, a China defende os interesses dela, a Índia defende os interesses dela, a África do Sul fica meio deslocada. E vai ampliando, ampliando, e o que a gente percebe? Que é um pouco difícil coordenar interesses tão diversos de países tão diferentes”, acrescentou.
Pio Penna Filho acrescenta que a “tendência” é se avaliar que a ampliação e a criação da nova categoria representam “recado claro para o Ocidente, Estados Unidos e Europa.”
Efeitos econômicos
CEO da gestora Multiplike, Volnei Eyng vai na mesma linha do professor Oreiro sobre o G7, afirmando que a entrada de novos países cria um “alinhamento que rivalize” com o grupo do qual os Estados Unidos fazem parte. Em razão disso, diz Eyng, é preciso ter “bastante cautela” em relação aos novos membros.
A respeito dos efeitos econômicos, Eyng avalia que a ampliação do Brics pode diminuir a dependência brasileira do mercado americano.
“A ampliação pode influenciar as políticas monetárias brasileiras, caso o Brics incentive medidas econômicas conjuntas, como mudanças nas taxas de câmbio e reservas internacionais, visando menos dependência do dólar. A diversificação de parcerias comerciais dentro do Brics poderia diminuir a dependência brasileira do mercado americano, promovendo maior estabilidade nas exportações, atraindo investimentos e fortalecendo cadeias produtivas com países como China e Índia”, afirmou.
Para Pio Pena Filho, a entrada de mais países no Brics, neste momento, não deve representar “nenhuma” vantagem econômica para o Brasil.
“Em termos econômicos, é uma tentativa de forçar uma coisa exagerada. Há interesses econômicos, mas que se diluem na ampliação. Por exemplo, no caso da China, é interesse econômico, para a Rússia, interesse geopolítico. Agora, para o Brasil, eu não vejo vantagem nenhuma nessa ampliação”, afirmou o professor.
Diplomata vê medida ‘para somar’
Um diplomata a par das conversas em torno da criação da nova categoria afirmou àGloboNews, na condição de anonimato, acreditar que a nova categoria vem para “somar” e não desconfigura o bloco, uma vez que o número de membros efetivos não vai mudar.
Para ele, a quantidade é “administrável” e que a tendência, na avaliação dele, é haver “reuniões curtas e conversas, objetivas”.
Acrescenta esse diplomata, é “artificial” separar áreas de influência do Brics e do G7 porque “um grupo que tenha Brasil, Índia e África do Sul não pode ser nenhuma dessas duas coisas”.
Conselho de Segurança da ONU
O Brasil assumirá a presidência do Brics a partir de janeiro de 2025. Entre os temas que o país quer pautar, estão combate à fome e à pobreza, desenvolvimento sustentável ereforma das instituições da chamada governança global, principalmente o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Para José Luís Oreiro, o grupo pode até pautar as discussões, mas, enquanto não houver uma decisão nesse sentido por parte de Estados Unidos, Reino Unido e França, não haverá mudança.
“Pautar a discussão, pode. Mas, no Conselho de Segurança da ONU, os cinco com assento permanente têm poder de veto, basta que Estados Unidos, França ou Reino Unido vetem que essa ampliação não acontece. Esse é o tipo de discussão que se faz, mas que, efetivamente, ninguém quer que vá para frente”, afirmou Oreiro.
Para Pio Penna Filho, pautar a discussão sobre a reforma do conselho é “mais discurso, nada efetivo”.
“Essa é uma coisa vazia. Veja a questão do clima, não se chega a um consenso, nos direitos humanos também. Então, a reforma do Conselho de Segurança da ONU, até mesmo no Brics não há consenso sobre o Brasil entrar. A Rússia, com certeza, não abre mão do assento permanente e não sei se apoiaria a entrada do Brasil”, afirmou.
Fonte: G1